Como a greve afeta a política no Ceará

O governo federal começou a dividir a fatura política pela greve dos caminhoneiros. Em reunião com os secretários estaduais da Fazenda na tarde de ontem, o presidente tentou equacionar parte do peso dessa com os governadores. Para tanto, a equipe de Temer sugeriu a redução do ICMS cobrado sobre o diesel. Os gestores estaduais chiaram, mas, a partir de agora, a tendência é de que a pressão recaia nos ombros dos chefes de Executivo estaduais, que travam uma batalha para equilibrar as contas depois de uma grave crise fiscal. No Rio, por exemplo, Pezão anunciou redução de 16% para 12% no ICMS sobre o diesel. E no Ceará?

LULA CÁ E CAMILO LÁ

Enquanto o PT estadual promove hoje o pré-lançamento da candidatura do ex-presidente Lula em Fortaleza, a cerca de 550 km da Capital, o governador Camilo Santana participa de caravana no Cariri. Na região, o petista acompanha a festa de Santo Antônio, a quem os fiéis costumam recorrer quando desejam promover uma união cuja realização encontra muitos obstáculos. Nessas horas, apelam ao santo, que tem fama de casamenteiro.

Filho do Crato, município caririense, o chefe do Executivo vem repetindo que, caso o PT insista no nome de Lula para a Presidência, corre o risco de cometer “suicídio político”. Para o governador, o partido deveria indicar um vice para a chapa de Ciro Gomes, do PDT.

Não é que Camilo tenha se divorciado da candidatura Lula. Ele nunca expressou de fato o desejo de subir ao altar e dizer “sim” ao ex-presidente. Fiel, o governador afirma, desde o ano passado: os seus votos são para o companheiro de grupo político, Ciro.

A DIFÍCIL OPOSIÇÃO DE HEITOR

Recebo uma mensagem cujo título é: “Heitor Férrer permanece como oposição ao Governo”. Depois da coqueluche de adesismo que contagiou a oposição no Ceará, é sintomático que o deputado estadual, hoje no Solidariedade (SD), precise avisar que não é parte da base do governador Camilo.

Cristão novo no governismo, o SD migrou para o camilismo na grande diáspora da oposição, cujo movimento, de poucos dias atrás, também arrastou o ex-infiel Domingos Filho e sua prole, o deputado federal Domingos Neto, ambos no PSD.

Heitor, porém, resiste, praticando um curioso sincretismo político: o parlamentar apresenta-se como oposição independente, mas prestou grande ajuda ao Abolição quando apresentou o projeto de lei que extinguiu o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), então presidido por Domingos. Nessa época, o bloco anti-Camilo era composto, entre outros, pelo senador Eunício Oliveira (MDB), recém-convertido à catequese palaciana.

A TRAGÉDIA ANUNCIADA

De quem é a responsabilidade pela morte de Hannah Evelyn de Andrade Laranjeira, a garota de 4 anos que caiu na fossa da creche municipal onde estudava no bairro Ancuri, em Fortaleza, na última quarta-feira?

A Prefeitura afirma que abriu sindicância para apurar a tragédia. É pouco. O caso é de demissão imediata. De quem? Dos responsáveis diretos pela unidade. A morte da menina embute uma cadeia de negligências, cujas consequências, somadas, resultaram nisso: da direção da escola a todos os envolvidos.

Dizer que a creche funcionava de forma precária é apenas repetir como boa parte dessas instituições trabalha no dia a dia. Nenhuma novidade. Mas o caso do Centro de Educação Infantil Professora Laís de Sousa Vieira Nobre é mais grave. Segundo familiares de alunos, a rede elétrica do estabelecimento estava comprometida. Lá, não se podia encostar numa parede sem levar um choque.

“Um lugar de crianças com uma fossa aberta? Isso é errado. Esse colégio tem que ser agora fechado”, disse a tia da pequena Hannah um dia após a morte da sobrinha.

A tragédia não foi um acidente, tampouco uma casualidade. Foi anunciada. Infelizmente, ninguém deu ouvidos.

Fonte: O Povo