Janela partidária: CE aguarda mudanças decisivas este mês

O período da chamada janela partidária, durante a qual os parlamentares podem migrar de partido sem perder mandato nas casas legislativas, iniciou na última semana e segue até o dia 1º do mês que vem. Até lá, deve-se esperar ainda movimentações importantes na conjuntura política cearense, tendo como pano de fundo as eleições de outubro.
Quem já se adiantou, nesse processo, foi o PSD do ex-vice-governador Domingos Filho, partido que realizou um evento na última sexta-feira (4) com suas novas filiações – incluindo a do deputado federal Célio Studart, que deixou o PV. Célio, que também se candidatou à Prefeitura de Fortaleza na eleição de 2020, foi o segundo deputado federal mais votado do Ceará em 2018, atrás apenas de Capitão Wagner (Pros), e é uma das apostas do PSD para fortalecer sua presença no Parlamento, no cenário local. Na ocasião, o partido também filiou o presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), Luiz Gastão.

O PSD, que integra a base governista de Camilo Santana (PT), tem como principal adversário hoje nas articulações internas por espaço o próprio PT, que recentemente o ultrapassou e se tornou o segundo maior partido em representação nas prefeituras cearenses, após filiar 12 gestores municipais em janeiro deste ano. A vaga de candidato a vice-governador na chapa pedetista tende a ir para um dos dois partidos, com ambos tendo objetivo de crescer dentro do governo após a eleição deste ano.

O PT, além de ter crescido em número de prefeitos, também tem atraído deputados, que devem migrar para o partido durante a janela partidária: um deles é Júlio César Filho (Cidadania), que ocupa o posto de líder do governo na Assembleia Legislativa do Ceará; outra é a deputada Augusta Brito (PCdoB), que também ocupa uma cadeira na casa. Nizo Costa (PSB), outro parlamentar com cargo na Assembleia, também pode estar incluído.

Também têm relevância, em meio a isso, as mudanças pendentes no PSDB, onde o grupo ligado ao prefeito de Maracanaú, Roberto Pessoa, deve migrar para o União Brasil, incluindo aí o ex-prefeito do mesmo município Firmo Camurça e a deputada estadual Fernanda Pessoa, irmã de Roberto. As mudanças têm como pano de fundo a reaproximação do senador Tasso Jereissati (PSDB) à base governista e ao PDT, sinalizando que o apoio do partido à eleição de José Sarto (PDT) na Capital tende a se repetir este ano, no pleito pelo Governo do Estado. Esse grupo, no entanto, é mais próximo de Capitão Wagner, que deve se candidatar ao Palácio da Abolição e tem boas chances de comandar o União no estado.

Outro tucano com mandato que vai deixar o partido é o deputado estadual Nelinho, cuja ida para o MDB foi anunciada no último mês, em articulação com Eunício Oliveira. O parlamentar analisava migrar também para o União Brasil, mas deve se lançar à Câmara Federal no mesmo partido do ex-senador, que deve disputar uma cadeira na mesma casa.

O próprio União, caso especial, é um que deve receber um volume expressivo de autoridades para disputar as eleições deste ano. Além dos nomes já mencionados, figuras do Pros devem migrar em peso, além de alguns outros quadros aliados de Wagner em outros partidos. A legenda, que resulta da fusão entre DEM e PSL, tem vivido no Ceará uma disputa, comum também em outros estados, pelo comando da nova agremiação uma vez que a junção for efetivada formalmente, uma vez que o grupo do PSL (representado pelo deputado federal Heitor Freire) está na oposição à atual gestão estadual e o grupo do DEM (representado por Chiquinho Feitosa) está na situação.

Indefinição
Um caso que chama a atenção é o do deputado estadual Heitor Férrer (Solidariedade), que quer mudar de partido, mas ainda não sabe para qual. Na última quinta-feira (3), o parlamentar falou sobre o assunto em seu pronunciamento na Assembleia: “Vejam a situação em que me encontro. Estou num partido que me dou bem, mas que não tem militância para uma campanha bem-sucedida. E nesse mês terei que me decidir”, disse ele.

O deputado recordou seus 28 anos de PDT e a saída do partido com a chegada do grupo dos Ferreira Gomes. “Tive que sair, pois não poderia conviver com um grupo político ao qual me opus durante toda a minha vida nesse Parlamento. E aí fui para o PSB, que depois passou a ser presidido por Odorico Monteiro e decidiu apoiar Camilo Santana para governador e Cid Gomes para o senado, ou seja, fui obrigado a me desfiliar. Fui convidado para o Solidariedade e recebido por Genecias Noronha, que cumpre com tudo que promete”, relembrou. Ele também agradeceu a Eunício e Capitão Wagner por colocarem seus partidos à disposição, mas destaca que sua campanha será “sem Lula e sem Bolsonaro” (Eunício apoiará o primeiro, enquanto Wagner apoiará o segundo).

Prazos
A janela partidária é um dos capítulos essenciais, nos meses que antecedem a eleição, para o avanço nas definições dentro das siglas. Também ao fim desse período, até o exato início do mês de abril, ocorrerão as desincompatibilizações de autoridades em cargos públicos para que possam disputar o pleito, conforme exige a lei. No caso atual, no entanto, parte desse processo já foi adiantado, com Camilo e Sarto tendo orientado seus secretários a deixarem os cargos já no início do ano, para facilitar a sucessão dentro das pastas.

Após esse período, terá relevância também para as articulações eleitorais o prazo final para a formalização das federações partidárias. As federações são uniões temporárias entre partidos – mais significativas do que as coligações, porém não tão definitivas como as fusões. As legendas federadas estarão juntas nas eleições, em todas as esferas públicas, e também terão que governar juntas, separando-se apenas após um período de quatro anos. Com isso, ao baterem o martelo sobre essas junções, os dirigentes partidários estarão também impactando pesadamente as articulações para o pleito deste ano.

Fonte: https://oestadoce.com.br/politica/janela-partidaria-ce-aguarda-mudancas-decisivas-este-mes/