Não é só o governador Camilo Santana (PT) que não tem poupado elogios e agradecimentos ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) pelas parcerias entre governos estadual e federal no Ceará. Na última semana, foi a vez também de membros do PSL no Estado saírem em defesa da articulação próxima entre os dois gestores, hoje em espectros diametralmente opostos no campo ideológico (ou pelo menos eleitos para cumprir tal papel).
“Essa parceria vai continuar, mesmo com ideologias diferentes (…) é importante ter humildade de ter cooperação”, diz na Assembleia o deputado Delegado Cavalcante (PSL). A fala veio um dia após o próprio Camilo agradecer, durante entrega de unidades habitacionais em Fortaleza, pela parceria com o governo federal. “Transmita minha gratidão ao presidente”, disse Camilo ao ministro Gustavo Canuto (Desenvolvimento Regional), presente no evento.
Observados “por alto”, os elogios e muitos agradecimentos parecem protocolares, coisas da institucionalidade, da liturgia do cargo. Camilo é governador, afinal, precisa da boa relação com o governo. Mas, observando o atual contexto político brasileiro, onde a polarização permeia desde mesas de bar até provas de vestibular, a troca de afagos ganha peso simbólico importante. Sobretudo quando se observa a obra entregue na última semana, iniciada e praticamente toda concluída em governos passados.
Nada é por acaso: Camilo, um dos principais cargos do PT no Brasil e homem próximo do oposicionista Ciro Gomes (PDT), age deliberadamente para alargar a ponte com Bolsonaro. E, pelo visto, já começa a surgir gente do outro lado interessada em fazer o mesmo.
CAIXA PRETA
O deputado Heitor Férrer (SD) entrou com pedido de informação cobrando que o governo esclareça quantos servidores comissionados atualmente trabalham na gestão. A ação está endereçada ao secretário do Planejamento do Estado, José Flávio Barbosa Jucá.
EMBATE DOS INHAMUNS
Teve fim na Justiça Eleitoral novo “round” de acusações entre o ex-conselheiro do TCM Domingos Filho (PSD) e o deputado Audic Mota (PSB), adversários políticos no município de Tauá, nos Inhamuns. Na semana passada, o TRE-CE rejeitou recursos que os dois moviam em ações antagônicas na Corte.
O EX-SÓCIO
O Tribunal Regional da 2ª Região (TRF-2) mandou soltar neste fim de semana o empresário Rodrigo Neves, preso na última semana junto com o ex-presidente Michel Temer (MDB). Neves já foi sócio do ex-senador Eunício Oliveira (MDB) em duas empresas e era citado pelo delator José Antunes Sobrinho, da Engevix, como “pessoa próxima” ao emedebista.
BEBIDA RACHA BASE
Aprovado na CCJ da Assembleia na última semana, projeto que libera a venda de bebidas alcoólicas em estádios do Ceará tem provocado forte reação na Casa nos últimos dias. A surpresa é que as manifestações contrárias não vêm da oposição, mas de dentro da própria base aliada. Só nas últimas sessões, parlamentares do PCdoB, MDB e até do próprio PDT subiram na tribuna para criticar a ação.
“Se aprovar esse projeto, a Assembleia será incoerente com sua campanha Ceará sem Drogas (…) será um retrocesso”, diz Marcos Sobreira (PDT). A proposta em si não é iniciativa do governo Camilo Santana (PT), mas foi proposta pelo ex-líder governista Evandro Leitão (PDT), que atua alinhado com o governador na Casa. Na legislatura passada, a pauta da bebida em estádios acabou travada pelo então presidente do Legislativo e hoje secretário das Cidades, Zezinho Albuquerque (PDT), opositor da medida.
Fonte: https://opovo.com.br/blogsecolunas/carlosmazza/2019/03/24/afagos-entre-camilo-e-bolsonaristas.html