A perspectiva da necessidade de aplicar uma terceira dose da vacina contra a covid-19 é tema que vem ganhando espaço no debate público, inclusive no meio político, na medida em que essa decisão deverá guiar ações dos governos para os próximos meses. Deputados cearenses que se pronunciaram sobre o tema tendem a se mostrar simpáticos à ideia, desde que a logística da aplicação da nova dose não atropele o andamento da primeira e da segunda. No momento atual, com grande parte da população ainda não vacinada com a segunda dose, a perspectiva é de que a ação seria precipitada.
O assunto vem sendo pautado principalmente a partir da notícia de que o Ministério da Saúde estuda a possibilidade dessa aplicação extra, com a pasta tendo encomendado um estudo para montar uma estratégia para contemplar as pessoas vacinadas com a Coronavac. Além disso, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já autorizou a realização de estudos para apurar a necessidade de uma terceira dose das vacinas da Astrazeneca e da Pfizer no Brasil.
O deputado Antônio Granja (PDT), que é também médico e primeiro secretário da Mesa Diretora da Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), considera que a dose de reforço é oportuna porque a covid-19 é uma doença ainda muito desconhecida e os cientistas estão pesquisando e debatendo sobre o novo coronavírus para avançar os estudos não só sobre a doença em si, como também na questão da vacina.
O parlamentar cita que alguns países já estão preconizando a necessidade da terceira dose, inclusive os Estados Unidos, mas que no caso do Brasil é preciso cautela. “Eu acho que é muito oportuno fazer essa dose de reforço. Mas nós temos ainda que avançar muito na questão da imunização, tanto na aplicação da primeira, como na aplicação da segunda dose, que está muito atrasada. Se vai ser dada a terceira dose só quando todas as pessoas tomarem a primeira dose, é algo a se discutir. As entidades científicas vão se debruçar sobre o tema para saber qual e como obter o melhor resultado”, disse ele.
A posição é a mesma do também médico e também deputado da Assembleia Heitor Férrer (Solidariedade). Segundo ele, para gerar a chamada imunidade de rebanho, é preciso que o país tenha vacinado entre 60% e 70% da população. Os países que já atingiram esse percentual de vacinação têm o privilégio agora de, seguindo a ciência, fazer a aplicação de uma terceira dose. “O grande problema do Brasil é que nós não temos avançado nessa vacinação como deveríamos. Com a segunda dose, temos apenas 25% de brasileiros vacinados. Ainda é muito pouco”, afirma o deputado.
O parlamentar acrescenta ainda que tomou a vacina em fevereiro e já está na fase final de proteção contra a doença. Como é médico e todos os dias atende pacientes que podem estar com covid-19, esses pacientes podem transmitir o vírus para ele. Por isso, explicou o deputado, que há a intenção de aplicar a terceira dose, essa dose de reforço, primeiro nos mais idosos e nas pessoas que fazem a saúde no Brasil, porque quem tomou a vacina em fevereiro já pode estar com a imunidade prejudicada.
Para Acrísio Sena (PT), é preciso que a ciência avalie bem a decisão de aplicar ou não uma terceira dose da vacina. “Os Estados Unidos já concluíram a aplicação da vacinação de suas respectivas populações. Mas nós, no Brasil, ainda não concluímos nem a primeira fase. Então, eles já podem ter essa garantia da terceira dose aplicada que nós não temos”, lembra o parlamentar. Ele adianta que o fundamental é concluir a vacinação de todos no Brasil. “Nós temos que concluir a vacinação de todos e depois avançar para uma terceira dose principalmente da vacina da Coronavac, que foi constituída num contexto em que não havia tantas variantes da covid como hoje”, diz ainda.
Câmara
O tema é pautado também na Câmara Federal, com o deputado cearense Eduardo Bismarck (PDT) tendo apresentado à casa o Projeto de Lei 2.854/2021, que que garante o direito a mais uma aplicação de vacina contra a covid-19 às pessoas acima de 60 anos ou com comorbidades. O texto da lei prevê que essas pessoas ainda terão que comprovar que seu organismo não gerou a resposta necessária à sua efetiva imunização.
A iniciativa tem como pano de fundo a declaração do Ministro da Saúde Marcelo Queiroga, na última semana, informando que as doses de reforço serão aplicadas inicialmente nos idosos e profissionais da saúde. Com o projeto em questão, o deputado pretende garantir neste primeiro momento a terceira dose também para as pessoas com comorbidades. “À medida que os casos das variantes da covid-19 seguem se espalhando pelo país, vemos a necessidade de agir de forma rápida, para salvar a maior quantidade de vidas possível e para isso, precisamos também incluir toda a população que possui comorbidades.”
Fonte: https://oestadoce.com.br/politica/deputados-defendem-que-3a-dose-so-com-2a-ja-avancada/